segunda-feira, 4 de agosto de 2008

sem título

enquanto alguns sumiam com teus vultos
eu fazia questão de ficar preso aos teus cabelos
não queria jamais te deixar passar por mim sem me levar
não conseguia pensar em você como quadros semiobscuros nas lembranças
o teu cheiro, tua fonte, sendo levado aos poucos pelo vento que incansavelmente se espalha
e não deixa migalhas que não sejam presenças inoportunas dos lapsos de saudade brincante/gritante em peito aberto
não estou pronto para tua partida
não te esquecerei jamais
não é possível esquecer da nossa própria existência
não recitarão jamais meus lábios
adeus.


falsas falsas poesias

meus versos são cheios de vazio
de palavras que não existem como razões que não são
são coisas que vêm do nada
não as enxergo para além de uma bela semântica universal

pra mim essas palavras não valem nada

sobram no espaço, por onde vagueiam
e se arrumam na mais lógica ordem sentimental de sentimentos sem nenhuma lógica
não existe a regra do interior guiando o vocábulo pelos rumos da emoção
elas brincam de construir mundo e neles existir

não sei se escrever desse jeito, assim tão superficial, é realmente superficial
pois estou repleto de nada ao escrever
e elas vêm do nada
talvez elas sejam, então, o reflexo do que sou eu sem conseguir me ver.


sem título

brotam vis sentimentos do meu peito
emoção rasgada tingida de verdades tolas
sinto o fedor que provocaram meus gestos ensaiados
e das bocas descodifico respostas que já esperava ouvir

um falso amor pra sair de caixinhas de veludo
tenho nas mãos um presente de ego pra fora
não é que não queria a solidão de cada momento junto a pessoa que Não amo
é que prefiro apodrecer sendo isso e mais nada:

apenas o que pintam de mim.


sexta-feira, 25 de julho de 2008

ao rumo

correr pelos campos pra buscar teu encanto
com as mãos delicadamente tocando a relva
e os dedos sentindo o florecer dos botões
correr pela terra adubada com o amor
para depois dos montes poder enxergar o infinito
é puro bucolismo, eu sei
mas o que é esse sentimento
se não a vontade de voltar ao chão donde nascemos?


domingo, 16 de março de 2008

vai passar

quero correr
correr que nem a lebre
fugindo do tiro
quero fugir do tiro
como os pombos
que fogem do barulho
quero fugir do barulho
e mergulhar no silêncio


e ser só silêncio
e ser apenas o ar em movimento
e ser apenas vento


rasgado.
assobiado.
chamado.

quero fugir do que me ataca
correr pro que me chama
não quero ficar parado em minha cama
esperando o tempo passar

e ... (ah!) ele irá passar.

quero passar junto, como o tempo
sobrevoar o silêncio das incertezas do porvir
e deixar todo esse barulho para trás

pois viver é o ato de fugir de tudo o que fomos, e, acima de tudo, de buscar tudo o que seremos.


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