um homem velho me parou na esquina e me olhou no olhos.
meu mal urbano me fez pensar que ele ia me assaltar, mas não.
- diga, senhor.
- só o acho interessante de olhar.
- desculpe, estou atrasado... e tentei sair. ele muito rápido, volta a minha frente.
- me deixa te olhar mais um pouco.
- olha, eu tenho mais o que fazer. dá licença?
- toda... e eu continuo andando. alguns passos a frente dou uma leve olhada para trás e vejo que o homem ainda me olha. paro. respiro fundo e dou a volta. vou até ele.
- diga o que o senhor quer? é dinheiro?
- não, meu filho. só quero te ver um pouco.
aquele homem me inquietava. não olhava-me com olhos de ganância nem de sexo. observava meus olhos.
- senhor, diga logo o que quer!
- quero só te ver mais um pouco, além do que você mostra pra todo mundo. mas vc não deixa, não é?
- como assim? o senhor não está me vendo aqui parado na sua frente.
- você não deixa ninguém te ver, não é?
- senhor...
mais pra frente um amigo grita meu nome.
- desculpe, tenho que ir... e saio. confuso.
já ao lado do meu amigo.
- aquele velho é louco. te parou perguntando se podia te ver, não foi?
- foi...
- é, ele tá fazendo isso com todo mundo aqui. louco.
e seguimos o nosso caminho.
outro dia, em casa, me olho no espelho, embaçado, após fazer a barba e lavar o rosto. a lembrança do velho me atinge abruptamente.
"você não deixa ninguém te ver, não é?"
pois bem, senhor: nem eu me vejo claramente.
Novidade bonita por aqui:
Há 11 anos