quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

pequenas prosas do fim. II

Cláudia disse ser uma garota boa e que mesmo assim ia pro inferno.

Perguntei se essa era a vontade dela, ela disse não ser.

Perguntei então o porque, ela disse que garotas más vão pro inferno.

Eu falei que ela tinha acabado de dizer que era uma garota boa e, se isso fosse verdade, esse risco ela não corria. É verdade isso, Cláudia?
Ela disse que sim.
Então porque o medo?
Ela calou-se.
É verdade isso, Cláudia? Eu já estava quase chorando nesse momento.
Ela baixou os olhos e quase sussurrando, Sim... Mas...
O que então, Cláudia? Não me controlei e soltei num grito, depois quase chorando, o que então?
Ela levantou os olhos, congelantes, e foi a ultima coisa que vi.
Minha pele sentiu a vibração que vinha de sua garganta, pra qual meus ouvidos não eram mais sensíveis, e ela soava algo como Você me faz querer ir pra onde você vai. A outra seqüência de vibrações foi bem rápida e impactante. Se meus ouvidos ainda funcionassem, e meu cérebro ainda fosse capaz de entender o que eles ouviam, eu teria me encolhido com medo, pois teria acabado de ouvir um tiro.


pequenas prosas do fim. I

- é podre, você é podre!
e nada de argumentos. ela gritava como louca. "podre, cafajeste, imundo... você!"
a última palavra vinha mais carregada que as outras. Você. como se esse fosse o maior insulto que um ser humano pudesse receber... ser eu!
tinha apenas um mês, ela nas nuvens e eu ao mar, jogando rede. das nuvens ela era rarefeita como o ar, espalhavas-se, e espalhava pra todos contos sobre nosso amor. mas esse amor parecia mais ser seu do que nosso.
eu no mar, um pescador a caráter, via tudo tão mais difuso através da água. via o reflexo dela boiando no céu, bem longe de mim e do que eu sentia.
talvez por essa agonia de amar ou por esse "meu bem" por falar, eu ia bem mais fundo n'água. e chegava até a rede. cheia de peixes, cheios do que eu precisava. e fui nadar com eles.
agora, ela fala "você". e eu calado, pois sei que culpa minha é a que existe. erros dela não servem de consolo para os meus.
mas o nosso, esse sim importa, foi não abandonar o mar e o céu, ir para a praia, donde poderíamos ver todo o nosso mundo se unindo distante. E sentados juntos, na areia, algo de sólido, enxergaríamos até nós os passos que marcam o caminho. caminho que ar e água não marca, e se dissolve.


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