tantas frases...

quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

sem nó

De saco cheio dos parnasianos
De pernas bambas no ladrilho frio
Ela, ébria sorridente, prevê tuas flechas

Ela que pontiagudas dores causa
Ela nega
Cabeça alta demais está alta demais

Mesmo assim, mira, acerta, penetra
Invade como sorriso na boca
De salto, assalta roubando o que tiveres mais de teu

Tua cara. Ela se torna
Ela te agrega e te solta
Bambo nas cordas em que te amarras

De força tal, tamanha
Confunde-se e se deixa levar
Pelas frias pedras do chão

Problema é saber aonde vai
E acompanhar.


sábado, 7 de novembro de 2009

Com certeza a lua não sabe que brilha tanto
Ela não sabe que a olhamos admirados
Nem imagina que seja tão assim, símbolo

A lua é burra
Um monte de areia e pedra
Que só se mexe porque algo lhe força

Não é nenhuma paisagem bela
Não tem nada de encanto
É apenas aquela bola solta no ar

Mesmo assim a olhamos
Olhos fartos
Porque apenas nela vemos a beleza do outro

A lua só se torna bonita porque reflete
Porque é feia, burra, mas tem a generosidade típica dos ignorantes
E se deixa refletir...

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

leve
contigo
leva-me
daqui
"pralí"
pra algum lugar
onde esqueça o existir

que vires apenas a luz que transpassa a janela
invadindo a minha casa
amanhecendo junto a mim
nos espalhando por todos os cantos

que seja inesperado
como deve e como foi
ser
sejamos

sorriremos, brilharemos
como vidro nos olhos
de um, "doutro"
noutro

nessa platéia
que nos espera
abaixo, do palco
sejamos
teatro

um só
mistura danada
aguçada verdade
ator e personagem.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

esta certa poesia
de sentimentos tortos
de rima rica, forçada
errada.

essa pouca poeticidade
com que vivo, ou finjo
viver a vida
as poucos

não é falsa
não é tola
não está ao contrário

só não é poesia.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

quadro por quadro
retrato move
encena

no intento mistura
realidade à ficção
emenda

e que cada um faça do
o seu
cinema

terça-feira, 8 de setembro de 2009

É isso.
sou isso.
a fração, não o zero à esquerda, mas o que há depois da vírgula.
então não me entendo como incompleto, mas como parte de um todo.

0,1.

alguém.

sábado, 29 de agosto de 2009

tão doce
tão... doce
és como uma fruta
doce
tão doce
suculenta
mordida pelos olhos
e o sabor direto pro coração.

tua doçura ultrapassa o paladar
as nocões
tua doçura cega
e no lugar de todas as outras imagens do mundo


a lembrança do teu sabor.
único, sentido.

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

[...]
é sobre essa ilusão que é refeição diária
presente no café da manhã, no almoço e no jantar
e que vez ou outra, constantemente
faz-me atacar a geladeira dos desejos durante as madrugadas
[...]

às vezes sinto uma saudade de ser um pouco menos
um pouco menos correto
um pouco menos enquadrado
um pouco menos afinado
um pouco menos responsável
um pouco menos chato
um pouco menos verdadeiro
um pouco menos entregue
sinto saudades de ser menos carlos
e muito mais caco, minha versão eu mais "jogado"

já fui caco de corpo e alma, hj não mais
meu único medo é me perder de caco
e carlos ser pra sempre.
um carlos que é, talvez, melhor que caco
mas não é ... leve.

sinto falta da minha leveza, hoje sou muito mais rijo e consciente
meio que deixei de ser ator para ser autor
para ter o controle da história, e não mais me deixar controlar.
perdi o imoproviso, sou ótimo nas respostas prontas para perguntas ensaiadas.
não mais coloco um brilho nos meus monólogos, não há mais espaço para os tão agradáveis "cacos" que surgem sem esperar.
sou so esse texto ensaiado e decorado,
esse carlos sem nenhum caco,
e o que mais busco nessa peça quadro-a-quadro
é a naturalidade

a naturalidade do Ser.


domingo, 5 de julho de 2009

amores platônicos, eis pra mim a maior serventia:

escrever sobre eles.


quarta-feira, 1 de julho de 2009

e assim ele segue a vida:

esquece do passado em dúvida, que graças a deus se tornou a afirmação do presente e do futuro.

joga-se no mundo, espera uma boa rede pra cair...

e ouve música pela madrugada, pensando na vida e no que é possível fazer nela.

quem sabe assim será mais feliz. ele, pelo menos, ainda não sabe.


segunda-feira, 29 de junho de 2009

a gente tem esse por que e esse talvez gravado na mente pra eternidade.
o problema não é a pergunta nem a dúvida.
o problema é a mente.


terça-feira, 23 de junho de 2009

releitura

não importa mais o que não foi dito.
apenas importa o que tenho a dizer.


... pelo menos por enquanto.


segunda-feira, 22 de junho de 2009

tenho a feliciade tão próxima, mas teimo em sobrecarregá-la de vontades intangíveis.

preciso reler minha literatura. preciso me entender melhor. preciso cobrar menos de mim.


domingo, 21 de junho de 2009

meio que descarado, observo-te o tempo inteiro. meio, pois por intero só tenho a vontade.

(incompleto)


sábado, 20 de junho de 2009

um olhar de verdade
cheio dela
cheio de mim
cheio de palavras não ditas

percorre meu coração,
produz sinais por todo o corpo,
se pinta nos músculos do rosto
e viaja pelo ar até os teus olhos.

míopes, eles mal me enxergam
quem dirá tamanha verdade?
então, os meus cintilantes perdem o brilho
e começam a contar outras histórias.

mas um rastro de verdade
as acompanhará por debaixo das suas sombras
e quem sabe um dia os saudosos óculos voltem ao teu rosto...

espero que enxergando, não desvies o olhar.


segunda-feira, 15 de junho de 2009

o novo eu me dá tapas na cara
tapas que enterram sementes
e no local onde se afundam
crescem flores.

espero que o pólen delas não se espalhe
permaneça em mim
aguardando o agente fértil alheio
agir no corpo tão meu.

quero me encher dessa verdade
de ser tão eu quanto posso ser
mesmo que cada dia ainda mais novo
sendo o novo, sendo só isso.

ainda cresço em mim.



sexta-feira, 10 de abril de 2009

é o velho que me olha nos olhos
através do espelho
o velho que sou
cheio de saudades do que era
cheio de saudades do que não pode ser.

é apenas um velho
e velhos logo morrerão.


quarta-feira, 8 de abril de 2009

vitrine de mim mesmo
reticente itinerante
sou esse pouco fato que se apresenta pelos cantos
como se tivesse muita coisa pra falar.


domingo, 5 de abril de 2009

de repente estou ao teu lado
vejo tudo mais verde, um frescor ronda todas as coisas
vejo tanto pólen solto pelo ar, bailando à vida
ouço os sinos tocando, paro para ouvi-los
sinto um cheiro agradável, de vinho e suor, de corpo ébrio, do nosso corpo

é noite
é dia
é tudo junto
tudo é lembrança
e tudo é uma festa.

estar com você é uma festa!

E como os balões da festa, eu ganho o ar
viajo por sobre a cidade
repleta de você, dos nossos cantos
dos rastros que deixamos sobre a noite, sobre as festas, sobre os bares, sobre os carros, sobre as pontes, sobre nós e acerca de nós.

sinto aquele aperto, de quando se está feliz demais
caio em mim
escuto tudo melhor
aquele grito agudo me chama para a realidade.

meu despertador não para de tocar. eu, não querendo acordar, desligo-o e enfio a cabeça no travesseiro, procuro alguma lembrança, algum resquício de sonho. Procuro teu cheiro no travesseiro, mas nunca o tive aqui.
desisto. me levanto cuidadosamente com o pé direito. quem sabe um pouco de superstição é capaz de trazer sonho à realidade.
sigo.
mas ao teu lado, só em sonhos.


terça-feira, 31 de março de 2009

um homem velho me parou na esquina e me olhou no olhos.
meu mal urbano me fez pensar que ele ia me assaltar, mas não.
- diga, senhor.
- só o acho interessante de olhar.
- desculpe, estou atrasado... e tentei sair. ele muito rápido, volta a minha frente.
- me deixa te olhar mais um pouco.
- olha, eu tenho mais o que fazer. dá licença?
- toda... e eu continuo andando. alguns passos a frente dou uma leve olhada para trás e vejo que o homem ainda me olha. paro. respiro fundo e dou a volta. vou até ele.
- diga o que o senhor quer? é dinheiro?
- não, meu filho. só quero te ver um pouco.
aquele homem me inquietava. não olhava-me com olhos de ganância nem de sexo. observava meus olhos.
- senhor, diga logo o que quer!
- quero só te ver mais um pouco, além do que você mostra pra todo mundo. mas vc não deixa, não é?
- como assim? o senhor não está me vendo aqui parado na sua frente.
- você não deixa ninguém te ver, não é?
- senhor...
mais pra frente um amigo grita meu nome.
- desculpe, tenho que ir... e saio. confuso.
já ao lado do meu amigo.
- aquele velho é louco. te parou perguntando se podia te ver, não foi?
- foi...
- é, ele tá fazendo isso com todo mundo aqui. louco.
e seguimos o nosso caminho.

outro dia, em casa, me olho no espelho, embaçado, após fazer a barba e lavar o rosto. a lembrança do velho me atinge abruptamente.

"você não deixa ninguém te ver, não é?"

pois bem, senhor: nem eu me vejo claramente.


- um presente pra você.
- nossa! que dia é hoje, eu esqueci alguma data importante?
- não. só quero te dar um presente.
- tudo bem. cadê?
- aqui...
- tão pequeno assim... não estou querendo dizer que tamanho importa. mas é que este envelope é tão pequeno. é um cheque milhonário?
(ri)
- o último pedaço do pergaminho sagrado onde foram escritos os mandamentos
- amor, os mandamentos foram em pedras...
- é... eu sabia, eu só queria brincar.
- mas... e aí?
- não sei...
- não vai abrir?
(vacila um pouco)
- parece muito importante? quanto menor mais importante, não é?
(o olha, deixando um sorriso tomar conta da face)
- abre.
- é um pedido?
- é um presente.
- que tipo de presente?
- do tipo que se ganha e não se faz mais perguntas.
- do tipo que se abre?
- é, do tipo que se abre.
- tá bom...
(os olhos brilham)
(abre)
(o olhos brilham como nunca)
- é... teu nome...?
- ... te amo.


dormir é o que me resta
sonhar é só o que posso fazer.


cala a minha boca com o dedo antes que eu diga qualquer outra besteira
agora me pergunta qual a pergunta certa
e eu penso um pouco antes de responder qual é a pergunta certa
:
- pra que falar?

... beijo


quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

cheiro e carnaval

era maré de povo
tanto suor
tanta cor
sem você
apenas teu cheiro

a cada esquina
estranhos
caras feias pintadas de beleza
nenhum rosto teu
mas teu cheiro se destacava

em carnaval
pelo ar
o perfume que te traz para minha cabeça
saia dela e dizia
que talvez ali você estivesse

e meus olhos te procuravam como loucos
na esperança de entre tantas cabeças
ver a tua
viajar na tua
cair no teu passo

fiquei só com teu cheiro
e só teu cheiro não fez carnaval
quem sabe no próximo ano
a gente sobe e desce ladeira, cai na noite antiga
com teu aroma te vestindo ao meu lado.


sábado, 21 de fevereiro de 2009

mais uma vez, ilusão

de repente restaram apenas eles. a multidão parecia se resumir ao fora de foco comum do que não interessa no quadro. os olhos dela, da pessoa amada, brilhavam, refletiam ele, que a olhava. e viva! ele estava na cabeça dela. podia se ver lá dentro. e se sentia dentro dela.

um milésimo de segundo, foi esse o tempo. naquela noite, no meio de todas aquelas pessoas, no meio do discurso apaixonado pelo assunto da vez, ela passou a vista por ele. ele que sempre tinha a vista nela. bastou isso para satisfazer o seu sonho por aquela noite. e por todo o tempo em que não iriam se ver, aquela imagem, dele preso no olhos dela, serviria para fazê-lo acreditar que era verdade. até que iria arranjar outro fato que comprovasse o que ele sabia não ser real, mas que era gostoso acreditar existir.


...e eu sempre espero que no meio da conversa tua mão displicente caia em mim...


terça-feira, 27 de janeiro de 2009

FUTURO: algo que a gente deixa pra depois.
Pode ser que mude, ou não.
Não dizem que ele a Ele pertence?
Acho que também depende das ações de cada um.
Se tudo corre bem,
Vem o futuro com boas notícias.
Se não,
Vem o futuro incerto (pode ser que coisas boas aconteçam mesmo que o que espero hoje não aconteça).
Futuro é isso.
E a gente só tem que esperar acontecer.


por que o coração é um inimigo tão forte?
ele parece um dragão, se impondo através de seu fogo e querendo destruir todo o mundinho que você cultiva tão cuidadosamente.
mas ele não tem tamanho pra isso, ele cabe na mão. então o comparo a um tumor. ou a um ouriço que teima em furar nosso peito a cada movimento mais brusco que fazemos, como para se proteger de nós.
o coração é venenoso, ele dobra nossos sentidos, faz o corpo ficar doente, e como se não bastasse, gera uma dor de cabeça filha da puta. porque se não fazemos o que ele quer, a consciência pesa.
então ele tem o controle absoluto? ele manda e desmanda? ele só faz o que ele quer.

mas a cabeça é diferente. mesmo sofrendo forte influência do coração, ela é maior que ele.
reclamo da força do coração, mas não por que não posso vencê-la, mas pq ele nunca vai parar de lutar.
e essa luta enfraquece qualquer ser humano.
o coração é foda.
era bem melhor ter uma bomba relógio do que ter ele. só assim a gente explodiria de vez.


quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

pequenas prosas do fim. II

Cláudia disse ser uma garota boa e que mesmo assim ia pro inferno.

Perguntei se essa era a vontade dela, ela disse não ser.

Perguntei então o porque, ela disse que garotas más vão pro inferno.

Eu falei que ela tinha acabado de dizer que era uma garota boa e, se isso fosse verdade, esse risco ela não corria. É verdade isso, Cláudia?
Ela disse que sim.
Então porque o medo?
Ela calou-se.
É verdade isso, Cláudia? Eu já estava quase chorando nesse momento.
Ela baixou os olhos e quase sussurrando, Sim... Mas...
O que então, Cláudia? Não me controlei e soltei num grito, depois quase chorando, o que então?
Ela levantou os olhos, congelantes, e foi a ultima coisa que vi.
Minha pele sentiu a vibração que vinha de sua garganta, pra qual meus ouvidos não eram mais sensíveis, e ela soava algo como Você me faz querer ir pra onde você vai. A outra seqüência de vibrações foi bem rápida e impactante. Se meus ouvidos ainda funcionassem, e meu cérebro ainda fosse capaz de entender o que eles ouviam, eu teria me encolhido com medo, pois teria acabado de ouvir um tiro.


pequenas prosas do fim. I

- é podre, você é podre!
e nada de argumentos. ela gritava como louca. "podre, cafajeste, imundo... você!"
a última palavra vinha mais carregada que as outras. Você. como se esse fosse o maior insulto que um ser humano pudesse receber... ser eu!
tinha apenas um mês, ela nas nuvens e eu ao mar, jogando rede. das nuvens ela era rarefeita como o ar, espalhavas-se, e espalhava pra todos contos sobre nosso amor. mas esse amor parecia mais ser seu do que nosso.
eu no mar, um pescador a caráter, via tudo tão mais difuso através da água. via o reflexo dela boiando no céu, bem longe de mim e do que eu sentia.
talvez por essa agonia de amar ou por esse "meu bem" por falar, eu ia bem mais fundo n'água. e chegava até a rede. cheia de peixes, cheios do que eu precisava. e fui nadar com eles.
agora, ela fala "você". e eu calado, pois sei que culpa minha é a que existe. erros dela não servem de consolo para os meus.
mas o nosso, esse sim importa, foi não abandonar o mar e o céu, ir para a praia, donde poderíamos ver todo o nosso mundo se unindo distante. E sentados juntos, na areia, algo de sólido, enxergaríamos até nós os passos que marcam o caminho. caminho que ar e água não marca, e se dissolve.


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